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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Trabalhar as emoções feridas

A dificuldade de relacionamento e a possibilidade da mágoa não estão ligadas ao fato de sermos mais ou menos santos. Santidade é fruto de superação. Aliás, muitos santos só chegaram ao estágio de santidade exatamente porque conseguiram superar seus problemas de convivência. Ao lermos a vida dos grandes santos vemos como souberam amar, perdoar, relegar, passar por cima, voltar atrás... Foram mestres em relacionamento não porque não tiveram problemas, mas porque aprenderam a superá-los e a resolvê-los de modo correto.
Problemas existem, dificuldades de relacionamento são relativamente normais. Não podemos, sob nenhuma hipótese, permitir que essas dificuldades se transformem em ressentimentos.
Existem situações que fogem ao nosso controle e acabam por gerar desentendimentos. Mas isso jamais pode ser obstáculo para que vivamos como irmãos e nos amemos cada vez mais. O segredo é não deixar o sentimento negativo se transformar em ressentimento. A verdade precisa aparecer sempre.
É preciso aprender a expressar nossos sentimentos positivos e também os negativos. Não adianta querer se martirizar guardando tudo no coração. Mas é preciso aprender a fabulosa arte de se expressar, especialmente quando somos provocados por sentimentos estragados. Se já é difícil expressar os sentimentos bons, quanto mais expressar corretamente os sentimentos estragados. É preciso saber como falar e, acima de tudo, falar com o objetivo de fazer crescer, de desejar a cura do outro e não a sua destruição.
Ninguém está imune ao ressentimento. Ninguém consegue superá-lo só com alguns bons conselhos. O ser humano vive e se abastece pelo diálogo. Esse é o modo natural de comunicação. Mas parece que nos esquecemos de algo tão óbvio e evidente, e, diante dos problemas de relacionamento, nos fechamos num silêncio sepulcral. Sem a coragem de dialogar não existe a menor possibilidade de evitar que os problemas mais comuns do dia a dia acabem por se transformar em ressentimento.
Assim como a oração precisa ser sincera, o diálogo também deve obedecer a essa lei fundamental. Sinceridade significa estar desarmado.Não há como um diálogo ser canal de cura se eu for ao encontro do outro com o oração armado e pronto para criticá-lo, brigar com ele, ofendê-lo e culpá-lo. Isso não é diálogo, é provocação.
No diálogo fraterno e honesto não pode existir a intenção de ofender o outro ou de devolver a ofensa recebida. Se existe essa intenção, é melhor deixar para outra hora. Tudo o que falamos na hora da exaltação e da raiva só ajuda a aumentar o problema e a aprofundar a ferida.
O diálogo só é curador quando ocorre num clima de amizade fraterna, com o objetivo de solucionar o problema; é curador se ajuda quem fala e quem escuta. Ou ajuda a curar os dois envolvidos no processo ou não é cura do ressentimento. Por isso, o diálogo curador exige a coragem de ouvir. É preciso se colocar no lugar do outro, tentando enxergar o problema a partir do ponto de vista dele, tentando enxergar o problema a partir do ponto de vista dele, saber como ele está vendo e sentindo a situação.

(Do livro “A cura do ressentimento” do Padre Léo)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O inacabado que há em mim.

Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina. Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo.


O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.


Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nessa hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.


Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil. Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar.


Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim.

Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas.

Padre Fábio de Melo



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tudo posso n'Aquele que me fortalece!

Aquilo que não cai pela força do tempo é porque está fincado no chão com raízes profundas. "Tudo posso n’Aquele que me fortalece" é uma frase bonita, todos nós teríamos o direito de dizê-la, mas para que ela realmente aconteça dentro de nós ela precisa ter bastidores, o tempo de preparo. 

Por que a Igreja nos pede uma hora de jejum antes da comunhão? Para que nosso corpo se prepare para receber Jesus. O tempo de preparo é importante para o crescimento de uma pessoa.
A destruição do ser humano começa quando colocamos soldados para trabalharem de modo contrário ao que nos salva. Deus não tem outro desejo para a humanidade, a não ser salvá-la, para que esta possa dizer: "Tudo posso n’Aquele que me fortalece".
Não existe possibilidade de sermos grandes como homens de fé se não soubermos viver o tempo da espera. O meu "tudo posso" está em conexão com minha atitude, eu acolho para minha carne o desejo de Deus para minha vida.

As forças que o enfraquecem batem à sua porta e são sedutoras. Para estar em Deus é preciso viver o exercício da vontade, e a graça de Deus fortalece a nossa vontade para que possamos dizer “não” ou “sim”. 

Nós nos esquecemos de que devemos nos preparar para ser pais, mães, ter uma boa família, assim como padre se prepara para ser um bom padre. Quando nós temos uma sociedade despreparada o resultado é catastrófico.
“Tudo posso n’Aquele que me fortalece”, essa frase tem que ter o sacrifício nosso de cada dia. Às vezes, acho que estamos amortecidos, as coisas ruins estão acontecendo e não fazemos nada. Não podemos fazer nada se Deus está fora de nossa vida.

Não adianta nada você oferecer a regra para quem não quer obedecer, se antes, você não oferecer amor a essa pessoa. Se o vício nos escraviza precisamos propor o que nos liberta. Quando você descobre que Jesus lhe ensina coisas boas, que não há nada melhor nesta vida do que saber que Ele o ama e lhe quer bem, você se sente bem.

Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória” (Colossesenses 3, 1-4).

Quando queremos alguma coisa, nós lutamos. O vício só vai embora, quando queremos ser libertos de verdade. Quer livrar-se da depressão? Queira isso de verdade, com todos os sacrifícios que serão exigidos de você para se libertar.
Nós, muitas vezes, queremos um Cristianismo "light", uma vida "light"... Não queremos sacrifícios. Eu tenho medo da religião que nos acomoda. O nosso sacrifício de Quaresma, por exemplo, tem que estar ligado a algo em nós que precisa de mudança, nós sabemos aquilo que nos aprisiona e não nos deixa ir para o céu.
Eu quero alcançar a libertação a que eu tenho direito. Ninguém pode tratá-lo como lixo, por isso você tem que ser seletivo naquilo que entra em seu coração.

Onde seus pés estão presos? O que o impede de dizer “tudo posso”? Está lhe faltando preparo? Peça a Deus que o fortaleça para iniciar esse tempo de preparo em sua vida. Muitas vezes, só podemos dizer “tudo posso” quando alguém segura a nossa mão.



Padre Fábio de Melo.






segunda-feira, 5 de setembro de 2011

"Eu sou a tua paz!"

Olá pessoal! Fiquei um tempo sem aparecer por aqui, peço desculpas, mas foram semanas de correrias pra mim, com a JMJ, com minha viagem a São Paulo, com a minha volta a JP...
Mas hoje eu posto, e posto uma música que conheci na Jornada Mundial na Juventude, num show de Davidson Silva. Foi a música que mais tocou meu coração lá, e quando escuto lembro daquele momento maravilhoso de entrega, que vivi enquanto ele tocava essa música. Depois, em outro post, falo mais sobre a JMJ e coloco fotos!

"Por muito tempo não acreditei, me escondi, duvidei! Se tudo ao meu redor era ausência Tua, já não ouvia mais a Tua voz..."
Todos nós passamos por um momento de falta de fé, seja ele pequeno ou grande. Todos nós duvidamos, um dia, do amor de Deus por nós. E a gente acaba se escondendo, esquecendo de procurar a fonte de amor, que é Jesus! E pra piorar, tudo ao seu redor é "feio", é "vazio"... Amizades superficiais, relacionamentos ruins, traição, briga, desamor, desunião... Então, tem uma hora que você simplesmente procura Deus alí no meio, e não O acha... Mas Ele estava ao seu lado, esperando sua volta...

"Só acreditarei se eu tocar o Teu lado aberto, e sentir pulsar a alegria dos que creem em Ti, poder ouvir a Tua voz dizendo-me..."
E então você pede uma prova a Deus, um sinal, uma confirmação do amor dEle. Tomé não acreditou, ele precisava ver para crer que Jesus tinha ressussitado. Ele então diz que acreditaria se colocasse o dedo na ferida aberta de Jesus, e assim, quando Jesus aparece pra ele, ele coloca então o dedo no lado aberto de Jesus...
Quantas vezes, nós dizemos "só acredito se acontecer comigo!" para tantas coisas?! Muitos de nós conhece o Criador somente em palavras, e as pessoas que vivem uma experiência de encontro com Deus, percebe que Ele sempre esteve e está ao seu lado! O amor que Ele sente por nós é tão grande! E o que nasce em nós é tão forte que só vivendo pra saber! Nossa vontade depois de provar esse amor, é VIVER DESSE AMOR!

"Põe aqui tua mão, torna-te um homem de fé, toca o meu coração e o medo se vai! Eu voltei pra ti, por tanto te amar, toca o meu coração, EU SOU A TUA PAZ!"
É isso que provamos quando nós nos tornamos uma pessoa de fé, o medo simplesmente se vai! Porque com Deus, somos mais que vencedores, e nada nem ninguém pode nos derrotar, porque nossa PAZ é CRISTO, que vive e reina! Quando provamos desse amor, nós queremos viver por Ele, e por isso buscamos nos aproximar dessa fonte de felicidade, de amor. Nós buscamos a santidade, queremos ser santos! Queremos ser diferentes do mundo, queremos mostrar ao mundo que nós podemos viver nesse mundo sem sermos mundanos...



ORAÇÃO:
Meu Senhor, hoje eu atendo o Teu chamado, pois Tua voz queima meu coração! Como posso eu querer, Senhor, que Tu realize meus sonhos e meus planos, se eu não vivo aquela verdade que aprendi? Se minha vida passa longe da Tua verdade? Coloca em mim, meu Deus, o desejo de ser TODO TEU! Me atrai Senhor, ao Teu coração, onde eu sei que sentirei PAZ! Ali eu sei que serei fortalecida, que sairei agraciada! Quem me impedira? TODAS AS COISAS COOPERAM PARA O BEM DAQUELES QUE TE AMAM! Eu Te amo, eu Te sigo! EU CREIO!









sexta-feira, 22 de julho de 2011

Amizade: A dificuldade da reaproximação.

Ninguém gostaria de viver tendo apenas uma pessoa como amiga, pois, sabemos que quanto maior o nosso círculo de amizades, tanto maiores serão as oportunidades de aprendizado a partir da vivência com cada um delas. Às vezes, preferiríamos viver numa ilha, isolados de tudo e de todos, especialmente, quando experimentamos as asperezas dos desentendimentos, comuns e pertinentes, em nossas amizades.
Quem se abre aos relacionamentos deverá estar sempre disposto a resgatar a saúde do convívio, mesmo quando inúmeras situações indiquem, como válvula de escape, a facilidade da fuga.
Em todos os nossos compromissos não viveremos apenas as alegrias das festas e o calor dos abraços saudosos daqueles que nos amam e consideram a nossa presença importante, mas também, as dificuldades. Ainda que houvesse muitos momentos de júbilo em nossas convivências e confraternizações, seguramente, haverá, também, momentos em que preferiríamos romper com a amizade e fugir do mapa.
É verdade que somente nos desentendemos com aqueles que realmente convivemos e, de maneira especial, quando as coisas não vêm ao encontro das nossas cômodas intenções. Em certas ocasiões, surge ainda o desejo de pegar um dos nossos amigos pelo pescoço, chacoalhá-lo e jogá-lo contra a parede. Certamente, tal vontade teria de ser controlada, já que esses sentimentos tendem a desaparecer com a mesma velocidade com que emergiram no calor dos ânimos exaltados.
Tal como as ondas do mar roubam as areias sob os nossos pés, as desavenças, impaciências, irritações, invejas solapam os alicerces das nossas amizades. Penso não existir coisa mais descabida numa relação pessoal que o ato de "dar um gelo" ou, como alguns preferem dizer, "matar fulano no coração", isto é, esquecê-lo.
Pelos motivos acima apontados, muitas vezes, ferimos os sentimentos daqueles com quem convivemos; talvez, na mesma intensidade de uma agressão física.
Ignorar, mudar de calçada ou desconsiderar a presença de alguém, que antes fazia parte de nosso círculo de amizade, faz com que retrocedamos ao tamanho das picuinhas dos seres mais ínfimos que podemos imaginar. Seríamos injustos se comparássemos tais atitudes ao comportamento infantil; pois na pureza peculiar de crianças sabemos que logo após seus acessos de raiva, instantaneamente voltam à amizade sem nenhum ressentimento ou mágoa.
Para nós adultos, reviver a aproximação com alguém que tenha nos ferido, não é uma atitude fácil. Ninguém é superior o bastante para estar livre dos erros e deslizes contra a harmonia de suas amizades. Podemos ser vítimas, também, de nossos próprios acessos, que refletidos em atos potencializados pela ira, descontentamento ou ciúme, tenham decepcionado um amigo com nossas grosserias ou indiferenças.
O restabelecimento desses abalos em nossas relações, ainda que não seja fácil, poderá ser possível quando tomarmos a iniciativa da reaproximação, por exemplo, a partir das atividades ou coisas que eram vividas em comum.
"Aquele que não errou que atire a primeira pedra..." Assim, nos colocando na mesma condição – sujeito aos mesmos erros – justificaremos a atitude do destrato sofrido, não como sendo um comportamento próprio do nosso amigo, mas como resultado de uma faceta ainda desconhecida dentro do nosso convívio que precisará ser trabalhada.
Deus abençoe o seu esforço,

Dado Moura
(artigo extraído do livro: Relações sadias, laços duradouros)



segunda-feira, 18 de julho de 2011

É possível superar!

Virtuoso na vida é quem sabe fazer uso até dos próprios sofrimentos para crescer. Lutas e dores todos enfrentamos, contudo, nem sempre todos conseguem destas extrair a vida e o conhecimento devidos.
É penoso ver desmoronar nossos sonhos e idealizações. Mais angustiante ainda é ver a vida passar, sabendo que perdemos algumas tão sonhadas oportunidades… Principalmente no tocante às pessoas que nos são caras. A saudade de quem se ama, se não for bem digerida e saboreada, deixa no coração centelhas de ausência e abstração.
Não há flores no inverno, entretanto, o frio também possui sua específica beleza. Ele possibilita a reflexão acerca da falta que nos faz as cores da primavera.
Momento de dor é momento de crescer, de se cuidar e, singularmente, de valorizar o que se tem e o que se é. O sofrimento é uma fina oportunidade para repensarmos a vida e nos avaliarmos, colocando cada coisa em seu devido lugar.
O silêncio e o vazio – que a ausência e suas nuances provocam em nós – é por vezes desesperador, porém, diante dessa realidade temos a oportunidade de juntar nossos "pedaços existenciais" e recomeçar.
Até mesmo o Nazareno chorou quando experienciou a dor provocada pela morte de Seu amigo Lázaro. Ele enfrentou, como nós, a dor da perda, revelando-nos que não é proibido sofrer e chorar. Diante de tais desventuras temos o direito de sofrer, mas, não de estacionarmos em nossa dor. Ao contrário, somos convidados a conscientemente construir os alicerces para sua superação.
Todos perdemos em um determinado momento de nossa história: amigos, amores, empregos, entes queridos, enfim, perder é uma realidade própria de quem é gente. Quem só quer vencer na vida nunca se permitirá crescer com o ensinamento que somente a perda pode lhe acrescentar.
A maturidade se esconde no ato de quem não entrega à revolta e que busca não “entregar os pontos” diante de perdas e dores. Quem não estaciona na tragicidade da ausência, mas procura empregar/construir um sentido à sua dor, terá sempre a concreta possibilidade de no céu dos dias alçar voos bem mais altos…
Muitos dos grandes vitoriosos da história alcançaram seus êxitos a partir de momentos de grande tribulação. Estes souberam fazer do sofrimento um “trampolim” que os possibilitou avançar e crescer.
O próprio Jesus nos ensina a crescer com a dor. A Sua grande vitória, a Ressurreição, teve por alicerce a cruz e a desventura evidenciando assim que a cruz não é somente um lugar de morte, mas também de vida e superação.
Cruz é lugar de superação e vida nova. E no madeiro não estamos sozinhos, pois o Crucificado por excelência se aventura conosco, nos revelando – no auge da dor e penumbra – que existe sempre uma maneira concreta para crescer e superar.
É possível superar, sempre o é!

Diácono Adriano Zandoná